O vocalista Leandro “The Boss” Gomes (foto abaixo) segue incansável. À frente da The Blazer Brothers há mais de uma década, o band leader trabalha há algum tempo num kit multimídia que resume os dez primeiros anos “blazerianos”, como o próprio gosta de se referir a tudo que envolve o conjunto.
Um dos componentes desse kit é um livro onde o Raul Seixas cachoeirense narra as aventuras e desventuras do grupo na estrada, até fora do país. Afinal, “causos” pra contar realmente não faltam.
Com a autorização do Leandro – também conhecido como Led – antecipamos um trecho dessa obra a qual tivemos acesso. Trata-se de um verdadeiro diário do rock, com todos os ingredientes indispensáveis para que a TBB se torne lenda.
Confira:
“Em todo show sempre tem algum satélite etílico percorrendo a frente do palco. Às vezes incomoda, chato na sua viagem alcoólica. Outras vezes abrilhanta, vira atração e nos diverte. Em Porto Alegre, no Oito & Meio, Cidade Baixa, um mala atravessava o público, lá do fundo onde escorava mamado à parede, até a frente, na grade do palco. Num tributo a Raul, pedia insistentemente uma do Legião. Em Cachoeira a Beta dançava com meia de cana e dizia que me amava. Depois mudou de idéia e resolveu se declarar para o guitarrista. Em Rivera um metaleiro de um lado e um repentista missioneiro do outro cercaram a banda na saída do restaurante. O magrão, cheio de piercings, tatuagens e braceletes, falava todas as gírias metaleiras por minuto. O gaudério véio trovava em voz rasgada como se tivesse um megafone na garganta. Em Lavras, o palco era um fosso. O público estava no mezanino, mas embaixo havia um mala, pedindo Engenheiros.
No Free Riders, no DC Navegantes, na Capital, no intervalo do tributo a Raul, um casal chamou à mesa. O cara disse: ‘Vai lá e canta ‘’À Beira do Pantanal” e volta aqui pra fumar um béck com minha esposa e eu!’. Ainda no DC, um maluco me puxou à beira do palco e tirando um crucifixo do pescoço, colocou no meu. Na próxima parada em Barra do Ribeiro, o amuleto ficou pendurado num prego no quarto do hotel. Em Tramandaí um casal vidrou na banda. Cortejavam a todos sem pestanejar com aparatos diversos de artesanato. No fim das contas o cara empinou o resto choco de cerveja e me estendeu o copo vazio dizendo: ‘Toma, leva!’ E toda vez que tomares uma gelada lembre-se de mim!
Nos shows da BLAZER não só nos presenteiam com agrados estranhos, mas também nos tiram coisas como lembrança. Em Dona Francisca queriam até uma mecha do cabelo do baterista. O guitarrista deu tanta palheta que num dos intermináveis bis teve de pedir uma delas de volta dizendo ‘me empresta um pouquinho... devolvo-te depois!’. Em Restinga rasgaram a roupa do guitarrista. Em Bagé levaram meus dois óculos das performances raulseixistas. Ainda tentei argumentar que eram relíquias, pois os havia ganhado do próprio Raul Seixas em seu último show em Porto Alegre. Isso foi pior ainda. Aí sim as garotas levaram. Em Melo, no Uruguai, uma garota subiu ao palco e mordeu a boca do guitarrista. Em Santo Cristo, nas Missões, uma mulher, bem entusiasmada, ’enfiou’ (literalmente) a mão na bunda do baixista e o segurou pelas nádegas. Em Dona Chica, onde não conseguíamos descer do palco, nos arrancaram as camisetas suadas do corpo, onde havia o logo e o nome da banda. Em São Pedro a coisa foi mais longe: um camarada queria levar o guitarrista pra casa!”
Desejamos sorte ao Leandro nessa empreitada, e que logo os fãs da The Blazer Brothers possam estar desfrutando desse kit tão aguardado.