Aquele gordo safado que vocês conhecem por Ferrony produzia conteúdo jornalístico para mais de uma dezena de sites e também revistas certa época. Num desses sites, o Jornal do Rock RS - parceria do gordinho pintadinho com o batera da banda Piazitos Muertos, de Nova Petrópolis - saíram muitas entrevistas com bandas gaúchas e uma delas foi a The Blazer Brothers, em 2005. Como o site não está mais no ar para que vocês possam conferir o layout original desse trabalho, reproduzimos abaixo o conteúdo publicado na época (foi excluída apenas uma pergunta e sua a respectiva resposta para não trazer à tona uma certa indigestão que rolou na época entre o entrevistado e outro músico cachoeirense):
Cachoeira do Sul, na região central do estado, tem desde sempre uma cultura rock muito forte para consumo interno, mas que historicamente nunca conseguiu atravessar as barrancas do Rio Jacuí. Muitas bandas de qualidade nascem e morrem na cidade: umas não chegam a passar dos ensaios; outras se arrastam por anos e anos e acabam morrendo na casca. Mas a exceção atende pelo nome de The Blazer Brothers, uma banda de classic rock há anos fazendo shows principalmente pelo interior do Rio Grande e que agora começa a ampliar a sua divulgação em Porto Alegre e até mesmo fora do país. Conheça mais a The Blazer Brothers na entrevista que fizemos com o vocalista Leandro Gomes, líder da banda.
Fotos: divulgação
No meio rock da região central do estado e no meio motociclístico a The Blazer Brothers já é bastante conhecida, mas em outras regiões e para o grande público que acompanha as novidades do rock produzido no estado, a TBB ainda é um nome desconhecido. Por isso, conte pros leitores do Jornal do Rock RS um pouco mais sobre o surgimento da banda (o porque do nome também) e os pontos de sua história que tu consideras mais importantes, Leandro.
A The Blazer Brothers surgiu como banda em 99 revolucionando a cena rocker de Cachoeira do Sul, onde na época o estilo andava meio esquecido. Isto fomentou até o aparecimento de várias bandas e até o reaparecimento de muitas delas que há muito estavam adormecidas. Já de saída a banda gravou um cd independente com quatro músicas que figuraram na programação das FMs da região. No ano seguinte a banda entrou em recessão para em 2001, reorganizada, retomar seu trabalho. No ano seguinte o grupo se voltou completamente para fora do município e pegou de vez a estrada tocando em toda região. A esta altura haviam vários trabalhos gravados e rodando nas emissoras. Alcançamos Porto Alegre tocando e dando entrevistas na TVE e na Radio Atlântida em rede para todo o sul do país, no programa Pijama Show do Mister Pi para em menos de três meses repetirmos a façanha.
Em 2003 a banda começou a ganhar terrenos cada vez mais longínquos, atravessando o estado de ponta a ponta para apresentar seus shows. Mais música nas rádios e a banda não pára. No ano seguinte já contabilizamos shows em todo o Rio Grande do Sul, praticamente conquistando o estado.
O nome surgiu ainda em 92 em forma de dupla, quando eu cursava a antiga ESASC – Escola de Artes Santa Cecília – em Cachoeira, onde ocasionalmente comparecemos a uma festa da faculdade trajando blazers, o que gerou o comentário: “Olha! Os dois de blazer!” ou “Vocês são irmãos, vieram igual...” e a resposta era “Sim, nós somos os irmãos de blazer, os the blazer brothers,” enfim...
Este ano podemos contar com uma agenda já fixa, construída ao longo de nosso trabalho, no bom desempenho e sucesso obtidos em nossa passagem por todos estes lugares, onde em quase todos garantimos nossa volta, nosso lugar ao sol!
Em todo esse tempo de estrada, a banda já teve vários músicos passando por sua formação, as trocas sempre foram constantes. Quais são fatores que tu consideras determinantes para todas essas mudanças?
Não houve muitas trocas, a banda sempre girou em torno de um mesmo grupo, ou quase. Samuel Panta deixou a banda no início de 2000 e voltou a ela no ano seguinte ficando até o fim de 2003, ainda assim fazendo participações especiais em 2004 e este ano, na verdade até hoje ele, como co-fundador da banda e grande amigo, é chamado para alguns “revivals”. Levinton Gebauer continuou tocando quando o Vinícius entrou, saindo mais tarde, mas voltando em seguida onde toca hoje junto com o Jader Escouto. Eu e o Vagner Santos estamos desde o começo. Na verdade não há grandes mudanças. Talvez o que norteie a banda seja essa forte ligação entre seus membros. O que determina o nosso sucesso vem dessa parceria. Não adianta serem bons músicos se não forem bons amigos. A banda é uma segunda família. Pede dedicação e amor e se isso não rola não há como suportar.
Recentemente, Vinícius “Sadol”, guitarrista, e Gabriele, baterista, deixaram a banda. Qual foi o motivo da saída deles?
Gaby e Vinny queriam fazer outra coisa, fora da proposta da banda. Na verdade ele até já tinha sua banda paralela e se dedicava mais a ela. A passagem deles foi bacana e juntos fizemos 65 shows em 25 cidades. Ter Gaby na banda foi uma grande experiência, ela foi a “sister” dos “brothers” e brilhou como eu previa. Eles saíram amigavelmente e tenho certeza que, assim como nós, guardam boas lembranças deste período na banda.
Jader Escouto assumiu a guitarra e Nenê tomou conta das baquetas. Como está a nova formação? A adaptação dos dois foi fácil?
A entrada de Jader e a volta do Levinton nos permitiu juntar o virtuosismo da técnica com a simplicidade do blues, elementos básicos do rock clássico. Nenê, assim como a Gaby, são da nova geração e talvez isso implique em mais tempo para se adaptar, mas ele tem uma pegada boa e dá um timing diferente a patada da Blazer.
A banda conta com quase uma dezena de títulos, entre singles, EPs e gravações ao vivo em sua discografia. Quando teremos um lançamento da banda em mídia que não seja cd-r, um disco oficial?
Ora, todos sabemos que hoje em dia é mais fácil e barato tentar entrar na mídia através do cd independente. Todos sabem que uma gravadora requer uma estrutura financeira maior e a segurança da escora de um bom apadrinhamento. Isto só e requerido depois de atingir um nível comercial bem mais alto através de uma produtora de patamar nacional. Até o Jota Quest grava suas primeiras pistas do disco em casa no computador. Hoje em dia a informatização nos dá estas regalias. Qualquer um pode ter em casa no seu computador programas de gravação usados em estúdios. O Lobão e o Zeca Baleiro se utilizam até hoje desse meio, pois foram precursores do “independente”.
Live In Radio 2, de 2003, traz só uma música da banda, “Verão 94”. O restante é só covers, sendo sete só do Creedence, além de medleys. Quais desses covers ainda fazem parte do set list da banda?
Todos! Quando se está no meio rocker tocando classic rock não dá pra deixar de executar essas pérolas e sim acrescentar.
E as gravações do novo single, “Like The Rain”, já foram finalizadas?
A troca na formação e a agenda da banda acabaram adiando os trabalhos dessa canção. Nesse meio tempo descobrimos que as pessoas pedem muito uma canção lá do primeiro cd, em 99. Solicitada para execução nos shows pelo nosso público, resolvemos regravá-la como novo single. A nova roupagem está ficando linda e foi sugerida por Samuel Panta antes mesmo de sua saída. Já “Like The Rain” fica para o inverno.
Como foi que a The Blazer Brothers conseguiu entrar nesse circuito de shows em eventos motociclísticos no interior do estado?
Trabalho! Esta é a palavra certa para definir o meio. Enquanto nos criticavam, a gente baixava a cabeça e trabalhava mais ainda. Nossa resposta a todas as criticas e mesquinharias foi sempre em forma de trabalho, resultados. Somamos competência e seriedade a nossa humildade e adicionamos muito amor ao que fazemos. O talento vem de Deus, mas cabe a você fazer bom ou mal uso dele.
O currículo de shows da TBB é seguramente o mais extenso entre todas as bandas de rock que já surgiram em Cachoeira. Quais foram os melhores até hoje? E por que?
Tivemos muitos shows gratificantes, recompensadores. Nas Missões tocamos dois shows na mesma noite. Tocamos em Santo Ângelo, pegamos um furgão e fomos até Santo Cristo onde havia dez mil pessoas nos aguardando. Uma loucura, o show acabou às sete da manhã com o sol na minha cara. Em Tramandaí tocamos para quarenta mil pessoas num encontro que reuniu vinte e cinco mil motos. Foi prazeroso tocar em casa quando aqui no nosso ginásio Arrozão, tanto na ocasião em que abrimos para a Tequila Baby quanto para o Latino, ver as pessoas cantando nossas canções e depois ir embora no show deles, Tequila e Latino. Agora, lá no 8 & ½ Bar em Porto Alegre, uma fila enorme foi mandada embora por superlotação. Mas o mais impressionante foi tocar em terras internacionais. No Uruguai tudo foi diferente, a cultura deles difere todo o tratamento. Apesar de ser um país pobre, eles são muito hospitaleiros. Quem tem um Gol mil tem carro importado lá em Melo, no Cerro Largo. Pra eles tudo era festa, o que era rústico pra gente, pra eles era luxo. Na confraternização não havia nem talheres, as pessoas se divertiam comendo com as mãos, o que pra nós parecia uma dificuldade. A cerveja é apenas resfriada, como na maioria dos países é consumida praticamente quente. Mas o show foi um sucesso! Arrisquei até um portunhol que deu certo durante os shows. A Blazer tocava na sexta, mas a loucura da platéia nos levou a fazer show também no sábado e sair correndo para Rosário, onde tocaríamos no mesmo dia. Ninguém queria deixar a banda ir embora.
E o pior? Por que?
Não dá pra dizer pior, porque sempre damos o melhor de nós em nossos shows. Sempre há uma compensação. Mas no início era bem difícil porque tudo era a preço de banana e suado. Uma coisa é certa, quem está na estrada, numa banda de rock tem de estar pronto para se submeter a surpresas, às vezes boas, às vezes nem tanto. Quem está na chuva é pra se molhar!
Só esse ano vocês já tocaram quatro vezes em Porto Alegre. Mas em outras oportunidades vocês já haviam tocado na capital. Como foram essas apresentações mais recentes para o público porto-alegrense?
A conquista da capital começou lá em 2002 quando tocamos duas vezes na TVE e no programa Pijama Show do Mister Pi ao vivo para todo o sul do país! Na Cidade Baixa somos bastante cultuados pelos “raulseixistas”. Desta última vez a casa não suportou a lotação e mandou uma fila enorme embora porque não cabia mais gente. A este público prometeram um terceiro show ainda para dezembro!
Depois de percorrer várias cidades do estado, dá pra apontar alguma(s) que tenha(m) o público mais fanático por rock no RS?
Porto Alegre é fenomenal. O pessoal canta em uníssono e é muito culto, mas dá pra apontar Santo Cristo onde o carnaval encerra com muito rock n’ roll, Nova Prata que cantou legal junto com a gente, Sobradinho e Passo Fundo foi assustador de tão presente e interativo aquele público enlouquecido.
Sempre que é marcado show de algum grande nome do rock gaúcho ou nacional em Cachoeira a TBB é sempre a primeira a ser lembrada para fazer o show de abertura. Desses grandes nomes, com quais vocês gostaram mais de tocar até hoje? Conte estórias de bastidores, etc...
Em Erechim tocamos com Tequila Baby, Xirú Missioneiro, Herança Gaúcha, Marciano (da dupla João Mineiro & Marciano), este último pediu que parássemos de tocar porque o show era simultâneo e não havia sobrado público no palco dele. A Tequila dividiu palco com a gente aqui em Cachoeira também. Em Passo Fundo tocamos com o Fiu, percussionista que acompanhou Raul nos shows aqui do Estado. Mas quem nos contou mais sobre o “maluco beleza” foi o Marciano.
“Rock N’ Roll Bar” ainda é o maior hit da banda. Como foi que essa música surgiu? Ela continua a ser a mais pedida nos shows também?
Sim. Quando surgimos em 99 não queríamos nos lançar como todo mundo faz, com uma cançãozinha de amor e tal. Daí veio a idéia de falar da banda numa música comprida como os clássicos da década de oitenta. O refrão é pegajoso, todo mundo canta! Estrategicamente deu certo, pois botou o nome do grupo na boca das pessoas, mas “Êxodo Rural” as pessoas se pegam cantando até no chuveiro. Me surpreendeu também, ver a galera cantando “Verão 94” no Arrozão quando abrimos pro Latino. Naquele show me cobraram também a execução de “Passageiro dos Dias” que na época era música de trabalho, e “Nem de pó, nem de pedra” que se revelou a canção mais bonita da banda. Tanto que é a escolhida para uma nova roupagem dentro em breve.
Dos cds que a banda já lançou, alguns foram gravados no estúdio da 102 FM, em apresentação da banda ao vivo para dezenas de cidades da região central. De todos esses trabalhos que nasceram na rádio, qual foi o que teve maior repercussão, e por que?
Tudo o que rolou na rádio gerou uma procura muito grande pelos ouvintes atrás destes cds. Destes trabalhos saíram “Verão 94” e “Batendo Na Porta do Céu” (Knockin’ On Heaven’s Door) que foram muito pedidas.
E o tributo a Raul Seixas... vocês ainda fazem shows tocando só as músicas do Raulzito?
Sim, este show vende bastante e impressiona a todos por onde passa. Raul tem um público muito grande e de larga faixa etária. As maiores autoridades sobre Raul Seixas já têm material da banda e mantém contato com a gente. Sylvio Passos, Kika Seixas e Viviane Seixas já estão elaborando um documento de reconhecimento ao nosso trabalho, que assim que recebido, será publicado pela banda. Se algum ignorante andou falando que Cachoeira do Sul está fadada a tocar cover de Raul deixou a dor-de-cotovelo falar mais alto porque a cidade já teve ótimas bandas, mas infelizmente o que atrapalha é o olho gordo e mesquinharia que impedem as pessoas de trabalhar com objetivo, em vez de ocupar-se com invejas. O show Raulzito é o que mais vende, mas a banda tem três shows diferentes. O certo mesmo é que independente do que falam estes, e ao contrário deles, enterrados na lama local, a Blazer não está fadada a morrer aqui.
Há tempos tu és um cara bastante atuante no meio rock da cidade, tanto com a banda quanto como radialista. Desde que se envolveu com o rock, quais são as outras bandas de Cachoeira que tu viu surgir e apontaria como destaques?
Puxa, na década de oitenta tinha muita coisa interessante por aqui. Os guris daquela época hoje são pais de família e tal. De lá pra cá perdemos todos as rebeldias e nos rendemos à domesticação familiar. Havia a Paralelepípedo Azul, os caras da Destino Final do meu brother Silvio Cesar, hoje em Curitiba no ramo da música, a acidez da Cálice do Sol, a Pedaços de Vida, a Pirâmide do Tális Estrázulas, hoje em Floripa, ainda no ramo da música, e do meu amigo Miguel Assis, que hoje trabalha na polícia civil. Mas eu gostava mesmo era da Êxtase, que tinha o Márcio Crespo e o Marcelo e também a Harmonise, do Silvio Franco. Na época também fui roadie da universitária Tessália. Vale também lembrar da P.R.A que eu tinha como amigos e que na posição de radialista tentei por várias vezes alavancar!
Valeu Leandro. Sorte com a banda. Agora pode deixar teu recado final pros leitores do Jornal do Rock RS.
Valeu Ferrony, Que Deus abençoe todos nós! Bom Natal e Ano Novo a todos vocês, leitores virtuais do Jornal do Rock RS! Fé em Deus e pé na tábua!