quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Beatles e Ramones: Fanatismo Religioso

Por Bolívar Duarte*

Como tô há uma cara sem escrever, vou falar do assunto citado num texto anterior que muitos me pedem para escrever sobre.

Em primeiro lugar, quero deixar claro que tenho consciência de que muita gente que eu considero é capaz de se ofender com o que vem a seguir - embora a maioria já tenha a minha opinião sobre isso bem clara.

A essas pessoas, só peço que não levem pro lado pessoal. Do contrário, só estarão assumindo que fazem parte do grupo por mim referido.

Quando se admira muito o trabalho de uma banda, é completamente saudável se aprofundar sobre a carreira, as ideias, a postura e algumas curiosidades sobre ela, principalmente se a banda em questão tiver uma estrada (ou um legado) de décadas.

Como já disse antes, eu respeito muito mais quem consome música como ARTE do que quem consome meramente como ENTRETENIMENTO.

Mas quando essa admiração ultrapassa o limite do fanatismo, a coisa atinge um tom sério.

Pra mim, IDOLATRIA é sinônimo de alienação, pois passa-se a ter ideia fixa na figura da PESSOA, e não só no seu trabalho.

Muito se critica o fanatismo adolescente por figuras como Justin Bieber e os coloridos afeminados brasileiros, mas não se percebe que muita banda considerada ícone de sua geração também possui fã perturbado e religioso.

Fãs de Doors, Guns N'Roses, Nirvana, Iron Maiden, Legião Urbana e Los Hermanos são alguns exemplos de gente com potencial pra ser extremamente inconveniente e bitolada.

Mas poucos no mundo são tão cegos e alienados quanto os fãs de Beatles e de Ramones.

É óbvio que, em se tratando de rock'n roll as duas foram, respectivamente, as bandas mais influentes da história. Não questiono a importância de nenhuma delas.

Mas - talvez com exceção da música clássica - toda banda comete falhas, afinal, é formada por seres humanos. Não existe banda inquestionável.

O problema é que os ramonecos e os beatlelados não aceitam qualquer crítica minimamente negativa à sua banda preferida. Acham que o simples fato de alguém não gostar dela já faz desse ser um ignorante musical, um sem cultura.

Fãs de Ramones chegam a ter a prepotência de afirmar que não se pode gostar de punk rock sem gostar de sua tão querida banda, como se houvesse uma cartilha.

Há alguns anos eu cheguei a ouvir de um ramoneco - que hoje paga de skin - de barba na cara, casado e com filho pra criar, que "os Ramones precisaram ir até Londres mijar na ceva dos caras do Clash pra eles aprenderem o que é ser punk".

Pra começo de conversa, uma banda extremamente for fun dificilmente tem algo a ensinar a uma banda com embasamento político que foge de qualquer clichê!

Em segundo lugar, que papo mais juvenil essa estupidez de "çol maiz pamque ke vosë", porra! Vai botá uma cueca!

Os beatlemaníacos costumam tratar Paul McCartney como deus - e o filho da puta assumiu essa postura de soberano -, dando chilique quando escutam qualquer crítica.

Ser um hitmaker é diferente de ser um excelente compositor. Michel Teló, Ivete Sangalo e vários MCs de funk carioca que o digam.

Mesmo assim, Paul McCartney é um BOM compositor. O que muitos se negam a enxergar é que o cara é um baixista MEDIANO. Suas linhas são totalmente previsíveis (nesse momento, algumas centenas de alienados estão estourando as hemorroidas).

Outro ponto irritante, quem forma bandas com influências destas bandas mitificadas - especialmente Beatles e Ramones -, confunde influência com chupação, e costuma fazer um som extremamente CÓPIA dos ídolos.
Em Porto Alegre o que mais tem é banda cópia de Beatles e de Ramones.

Poderia citar mais diversos exemplos da bitolação dos fãs de Beatles e dos fãs de Ramones, mas acho que já ilustrei o suficiente.

Falando especificamente sobre meu gosto, eu até gosto de Ramones, mas a intransigência dos fãs me torna bastante resistente a ouvir o som da banda. Já dos Beatles eu só curto a primeira fase, que imbecilmente os brasileiros chamam de "iê iê iê". De psicodelia e hipponguice eu passo longe. Bonito seria se quando passasse o efeito do doce a Lucy tivesse caído do céu e rasgado toda a cara com os diamantes.

Quem se ofendeu e acha que eu posso reagir da mesma forma quando falam das bandas que eu curto, deixo claro que minhas três bandas preferidas são Clash, Stiff Little Fingers e Cock Sparrer, e que admiro muito o trampo de Joe Strummer, Jake Burns e Matt Freeman (Rancid).

Tô à disposição pra debater qualquer assunto referente a tais bandas (tanto as que eu curto quanto as que eu critico), pra mostrar pra vocês como se argumenta sem dar chiliques.

Pros fãs de Beatles e de Ramones que veem algum sentido no que eu escrevi, MEUS PARABÉNS!
Vocês são raridade.

Bolívar Duarte
P.S.: Não vai faltar oportunista comparando o fanatismo por uma banda com o sentimento extremo pelo seu time de futebol - que também não deixa de ser uma espécie de fanatismo.
Mas pra mim, a principal diferença é o fato de sermos apaixonados pela INSTITUIÇÃO, e não pelos jogadores, pois eles vêm e vão.
Bandas consideradas ícones dificimente mudam de formação.
Clubes disputam partidas e títulos contra outros e têm rivalidades históricas.
Bandas não possuem rivais. Não se pode comparar o espetáculo do esporte com o espetáculo de um show.

Além disso, torcemos apenas para um time (pelo menos quem se dá o respeito), o que faz com que muitos se submetam a viagens em condições precárias para acompanhar seu time do coração, às vezes duas na mesma semana.
Raramente um fã de uma banda assiste a dois shows da mesma turnê em lugares diferentes.

Pra finalizar, futebol é a atração principal do momento, tanto se assistido no estádio quanto pela TV.
Já com a música, a banda é sim a atração principal quando estamos em um show, mas também escutamos música quando estamos conversando com outras pessoas, quando estamos bebendo em um bar, em festas, fazendo sexo, dormindo, comendo, no computador, entre diversas outras situações.
Mesmo que haja sentimento pelo som de uma banda, ela por vezes fica em segundo plano.
O time do coração é prioridade sempre que estiver em campo.

* Bolívar Duarte é figura carimbada na cena punk porto-alegrense, já tendo tocado em formações conhecidas no underground gaúcho como A.U? e Mambira, entre outras. Atualmente toca na Tamborellos e aguarda convites para vir com sua banda tocar em Cachoeira. Tem 28 anos, é colorado, acadêmico de Jornalismo e mora na rua mais bonita do mundo.

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http://www.facebook.com/tamborello1909

Texto extraído originalmente de www.burricenaotemlimite.blogspot.com