Tiago Jaime Machado é um cyberhippie de hábitos ciganos. Assim como está aqui, logo logo ele já está ali, mas sempre em movimento e sempre em frente. Cachoeirense que já peregrinou pelas mais diversas paisagens, abandonou a vida de publicitário de sucesso e, após acumular fortuna produzindo publicidade na web para uma cervejaria de renome, voltou para sua terra natal para defender o patrimônio histórico, combater a transgenia, incentivar o povo a utilizar a bicicleta como meio de transporte, repassar alguns ensinamentos para a gurizadinha e difundir os valores do anarquismo e os princípios de auto-gestão.
Sim, ele é feliz e ainda possui todos os dentes |
Habilidoso "violeiro" de degraus de portas de supermercados e criador do primeiro portal de comunicação teenager de Cachoeira, assim ele foi conhecido um dia. Mas abandonou a companhia da ralé que circunda até hoje a Belina vermelha e chegou até a fazer parte da Rotten Filthy, em priscas eras.
Cidadão do mundo e com conhecimento cultural privilegiado - Bruxo, como os mais antigos lhe conhecem - fala um pouco sobre suas impressões sobre a cena rock local nestes aproximadamente dois meses decorridos desde seu retorno.
Como você analisa a cena rock de Cachoeira atualmente, comparando com a própria cena que tu vivenciou e testemunhou antes de começar a tua vida cigana?
Penso que a cena rock da cidade está em plena transformação, é visível uma mudança de mãos da geração passada para um novo panorama. É claro que ainda existem muitos desafios e oportunidades nessa mudança, erros e acertos virão, mas com certeza teremos algo novo. A fase que vivi por aqui antes de partir foi muito boa, apesar de incipiente muitas vezes, agora percebo que existe uma aceitação maior da sociedade para quem vive como corvo pelas ruas da cidade.
Ainda no campo das comparações: o que tem em outros lugares onde tu já viveu que deveria haver por aqui?
O que é mais evidente é a necessidade de uma coesão de pensamentos, atividades e espaços, vejo que os grupos elegem seus pontos de encontro e vivenciam suas experiências de maneira muito fragmentada. Em Porto Alegre você tem o Bambu's, em Santa Maria o DCE, em Florianópolis a praça do hotel Majestic, em Blumenau o Barba Ruiva, etc... E em Cachoeira as pessoas ficam fragmentadas no 25 (cu), na lan house, na casa do Ferrony, no cemitério com o Pitbull, na casa do Chambão ou coçando a bunda mesmo. Creio que é o momento de romper com a personalização e desavenças pessoais e construirmos juntos a cena, os espaços, as oportunidades e as experiências rock da cidade.
O que é mais evidente é a necessidade de uma coesão de pensamentos, atividades e espaços, vejo que os grupos elegem seus pontos de encontro e vivenciam suas experiências de maneira muito fragmentada. Em Porto Alegre você tem o Bambu's, em Santa Maria o DCE, em Florianópolis a praça do hotel Majestic, em Blumenau o Barba Ruiva, etc... E em Cachoeira as pessoas ficam fragmentadas no 25 (cu), na lan house, na casa do Ferrony, no cemitério com o Pitbull, na casa do Chambão ou coçando a bunda mesmo. Creio que é o momento de romper com a personalização e desavenças pessoais e construirmos juntos a cena, os espaços, as oportunidades e as experiências rock da cidade.
Bruxo não curtiu tudo o que viu e ouviu desde que voltou |
Sobre as bandas: hoje em dia são em número bem maior que antigamente. A quantidade atual é sinônimo de qualidade?
Ainda não tive contatos com muitas bandas da nova geração, algumas apresentações que vi são ótimas, outras uma merda, igualzinho as apresentações do meu tempo de vegetal urbano.
Dos shows que aconteceram na cidade que tu viu desde que voltou, qual te chamou mais atenção? Por que?
A banda que mais me chamou a atenção foi a Winged Monkey, pelo vigor do repertório escolhido, pela presença de palco e pela performance individual das componentes da banda, destaque para a Môlle e pro batera que eu não sei o nome. Arrebentaram!
Qual é a tua sugestão pras bandas conquistarem mais espaço tanto em nível regional quanto estadual? Algum segredo para cruzar as fronteiras?
Não há nenhum segredo, a receita parece simples, mas requer dedicação extrema. Considero quatro pontos importantes:1) tocar sempre, seja no aniversário da sua tia, quanto no festival do bairro ou no intervalo do recreio na escola, não desperdiçar nenhuma oportunidade de se fazer visível, ainda que você tenha que carregar equipamentos pra lá e pra cá. (ou você acha que as grandes bandas sugiram do éter?)
2) mantenha-se em constante relacionamento com as bandas da sua cidade, da sua região e do estado que fazem o mesmo tipo de som ou que tenham os mesmos interesses que a sua banda, afinal, quem não é visto não é lembrado.
3) Mantenha um relacionamento estreito com as pessoas que vão aos shows, saiba o nome delas, crie um blog, agradeça as presenças tirando fotos com fãs e amigos, publique fotos, artigos, vídeos, músicas grátis e principalmente, faça as pessoas se sentirem importantes para a sua banda, tenho certeza que isso é muito melhor do que "ser descoberto por um grande produtor".
4) Chute-Bundas, foda-se a opinião dos outros, faça o que você está afim e não o que o mercado espera.